24 de setembro de 2012

Terra do Nunca



Então é isso. Esse é o resultado de crescer. Lembro-me bem de que quando pequena, eu costumava achar que ser grande deveria ser a melhor coisa do mundo. Já pensou? Poder passar maquiagem, usar salto, sair para festas, encontrar meu príncipe encantado, viajar sozinha, sair com as amigas. Uma maravilha, não é?

Não, não é. É verdade que tudo na vida tem seus prós e contras e não vou negar, também é bom ser uma quase-adulta. Mas... e quanto às minhas bonecas? Agora estão todas encaixotadas em um canto meio empoeirado do guarda-roupas. Elas, que antes eram minhas filhas, agora passam o tempo no escuro, presas lá dentro. Lembro que sempre chorava naquela cena de Toy Story 2, quando a Jessie é esquecida embaixo da cama da sua dona que está crescendo e não se preocupava mais com ela. Pobre boneca! Pois é, o mundo dá voltas e olha só, o mesmo acontece agora com aquelas que antes eram as minhas tão amadas bebês. Minha escrivaninha agora só tem lugar para os meus cremes, maquiagens, brincos, pulseiras, colares. Só a boneca mais especial continua em minha cama.

Como era bom dormir dentro do carro do meu pai dividindo o banco com meu irmão e acordar na cama. Como era bom dormir assistindo às aventuras de Peter Pan, o menino que sempre foi meu herói. Só nunca entendi uma coisa: por que é que ele nunca quis crescer?

Ah, meu querido Peter... agora eu te entendo. Crescer não é essa maravilha toda. Maravilhoso mesmo é ser criança. É ter quem a gente mais ama por perto, é poder fazer qualquer coisa, porque nada do que os outros pensam importa. É sonhar e acreditar que qualquer coisa é possível. É andar de bicicleta com seu pai e seu irmão na rua. É pular corda na calçada com as suas amigas de infância. É chorar porque ralou o joelho. Deitar na cama da mamãe e dormir com ela acariciando-lhe os cabelos até que o sono venha. É ter um clube secreto com seu irmão mais novo. É apertar a cachorra que sempre foi parte da sua família. É dormir querendo acordar cedo só pra ver seu desenho preferido na TV. Sentir seu pai beijar-lhe a testa antes de sair para mais um dia de trabalho. É apanhar jabuticabas com a sua avó no quintal da casa dela. É... ser feliz com as coisas simples.

Mas agora, aquele meu avô que eu tanto amei e aquela "tia" que cuidava de mim na escolinha com tanto carinho e que quase fazia parte da família, foram embora para sempre. Hoje, vivo em um mundo onde todos são julgados por tentarem ser quem são. Percebi que a gente pode sim sonhar, mas tem sempre que ter os pés no chão  logo eu, que sempre quis voar . Minha bicicleta está quebrada na garagem. Minhas amigas de infância agora estão na faculdade e não têm tempo pra quase nada. Tenho muito mais marcas do que uma simples cicatriz no joelho. Marcas que a vida fez questão de deixar em mim. Agora, durmo sozinha no escuro do meu quarto. Meu irmão e eu ainda somos amigos, ainda bem. Mas já não é a mesma coisa. A minha cachorra, tão querida, quase uma irmã, se foi e me deixou aqui com uma dor enorme no peito. Agora eu durmo pensando nos vestibulares que prestarei e que definirão meu futuro. Meu pai já não me beija mais a testa porque agora sou uma moça. Minha avó mudou de casa e não há mais nenhuma árvore por lá.

Ainda acho que a felicidade está nas coisas simples, mas agora eu tenho que procurá-las (e procurar bem). Agora eu te entendo, senhor Pan. Agora até me atrevo a pedir-lhe um pouco do pó mágico da Sininho. Me leva pra Terra do Nunca? Sei que a vida é feita de fases, perdas e ganhos. Mas às vezes, seria bom parar num tempo onde tudo era mágico. Pode me levar, Peter. E não precisa me trazer de volta tão cedo.


Esse texto faz parte da blogagem coletiva promovida no Depois dos Quinze.


2 comentários:

  1. Seria mesmo muito bom poder ir pra Terra do Nunca com o Peter Pan, ultimamente é o que eu mais quero!!
    Beijoos

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  2. Este texto ainda me faz chorar; talvez porque se encaixe tanto ao que sinto <3

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